sábado, 27 de abril de 2013

MONÓLOGO


- De que te servem essas lágrimas, criatura? Não as vejo limpando nada. Será preciso mais do que um clichê para sossegares teu coração.

domingo, 21 de abril de 2013

Manuel, o menino lix(vr)eiro


Até meus 16 anos minha mãe me levava para a escola. Como eu tinha que ir a pé e sozinho (só havia dinheiro para o ônibus na volta), ela temia que algo acontecesse comigo. Saíamos logo cedo, e não apenas por que íamos andando, mas por que mamãe levava seu carrinho de mão e nós dois íamos remexendo o lixo que encontrávamos no caminho. 
Eu adorava imaginar como eram as pessoas “donas” do lixo que encontrávamos. Se havia, por exemplo, uma embalagem de pizza, pelo tamanho eu imaginava quantas pessoas viviam na casa. Gostava também de visualizar todos felizes na mesa, comentando o quanto aquela pizza era saborosa. Às vezes, eu até imaginava como seria eu e mamãe sentados em uma mesa comendo pizza.
Quando era meu aniversário, eu e mamãe sempre brincávamos que o meu presente estaria escondido em alguma lata de lixo. A gente se divertia muito procurando, apesar do fedor. No meu aniversário de 13 anos nós encontramos um livro, novinho. Nessa época, eu nem gostava muito de ler. Mas, o título do livro chamou minha atenção: O menino lixeiro.
Devorei o livro em poucos dias. A cada página eu não podia acreditar que estava lendo uma história tão perecida com a minha. O menino lixeiro conta a história de um garoto de 13 anos que encontra um livro no lixo e depois disso começa uma jornada incrível à procura de outros livros até conseguir montar uma biblioteca.
No início achei até que minha mãe teria escondido esse livro naquele latão onde o encontramos, mas depois lembrei que ela não sabia ler e descartei a ideia. Decidi então mostrá-lo a minha professora de português, para saber se ela conhecia o tal livro. A professora disse que nunca tinha ouvido falar no livro nem no escritor, mas perguntou se eu já havia lido “Manuel e seus livros”. Acreditem, esse é meu nome.
Esse foi então o segundo livro que li em minha vida. Ele contava a história de um menino muito pobre que adorava ler e escrever. Manuel, o personagem, como não tinha muitos livros, começou a escrever suas próprias histórias e lê-las na escola para os seus colegas. Todos adoravam o que ele escrevia. Aos 15 anos publicou seu primeiro livro e aos 20 já era um famoso escritor.
Como vocês já devem imaginar, depois disso eu não consegui mais parar de ler. Todos os dias eu torcia para encontrar um livro no lixo. Nunca mais encontrei, mas isso não foi problema. Comecei a fazer como o menino lixeiro. Todos os dias escolhia algumas casas e batia de porta em porta, perguntando se alguém queria doar algum livro.
Aos poucos fui montando minha biblioteca. O espaço da minha casa casa era pequeno, mas uma vez uma senhora muita simpática me deu uma estante, para que eu pudesse guardar os livros sem ocupar muito espaço. Durante essa minha jornada pedindo livros, fiquei impressionado com a simpatia de algumas pessoas. Depois entendi o motivo, e se você é um leitor, eu sei que não preciso explicar o porquê.
Quando completei 15 anos, mamãe me deu de presente um livro. Pela primeira vez na minha vida, ganhei um presente que não havia sido jogado no lixo. Ela disse que não sabia nada sobre a história, que ficou com vergonha de dizer na livraria que não sabia ler e pegou o primeiro livro que ela viu.  O título era “A biblioteca mágica”. Nesse livro, a personagem principal era um menino rico, que não possuía nenhum amigo, só livros; até que um dia ele decidiu convidar todos os moleques da favela para ler os seus livros e ganhou um monte de amigos.
Percebi então que eu deveria fazer o mesmo. Não que eu não tivesse amigos, mas achei que deveria repartir aquela riqueza. Comecei a chamar todos os garotos da comunidade onde eu morava para passar as tardes lá em casa. Como eu já disse, o espaço era pequeno, então tínhamos que ficar do lado de fora. Alguns ainda não sabiam ler, mas quem sabia contava o que estava lendo.
Essa poderia ter sido a melhor época da minha vida, se não fosse por um único motivo: mamãe morreu quando eu estava prestes a completar 17 anos. Tive que ir morar com uma tia, a única parente que se ofereceu para me acolher.
Eu preferia morar com os meus livros, mas tive que me mudar. A minha tia era legal, mas ela já tinha muitos filhos e problemas para cuidar. A casa dela era menor do que a que eu morava e eu não pude levar meus livros. A minha professora de português se ofereceu para guardá-los e eu aceitei.
Tive que parar de pedir livros e começar a trabalhar, pois minha tia disse que não ia sustentar vagabundo. Eu era ajudante de pedreiro do meu tio durante o dia e estudante à noite. Eu pensei em desistir dos estudos, mas sempre que eu pensava nisso eu lembrava de um personagem chamado João Balão, que começou a trabalhar na mesma idade que eu, mas nem por isso deixou de estudar. Ele queria ser advogado e conseguiu.
Eu não quero ser médico nem advogado, eu quero ser igual ao Manuel, e ganhar dinheiro escrevendo livros. Mas eu nunca havia escrito uma história até então; como eu poderia viver igual ao personagem que possui o mesmo nome que o meu?
Foi por isso que decidi comprar um caderno e escrever sobre a história da minha vida. Claro que eu não sei como ela acaba, vou escrever até descobrir. Mas você já sabe como ela começa, então pode imaginar como ela termina.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A ARTE E O AMOR


Tu sempre fostes um artista de mão cheia, mas nunca conseguisses desenhar o meu coração. Não digo que a culpa seja só tua, talvez a borracha que guardei dentro do peito tenha te atrapalhado. Mas, não posso negar que percebi tua falta de coragem. 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A cor da felicidade

Mais do que sentir
cheiro e dor,
sempre quis
descobrir se 
         [a felicidade
tinha cor. 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Precisa-se

Do que é bom
Não causa dor
E não se chama amor

domingo, 7 de abril de 2013

Indisposição


Não pense que eu sou intolerante. Juro que não o sou. O problema é que às vezes é difícil segurar na mão de quem se incomoda com a felicidade que não lhe pertence. Não consigo encher o coração por alguém que luta para tirar algo que por direito deveria ser de todos e não apenas de um determinado grupo. Não sinto vontade de dividir um pedaço de amor com quem prefere machucar os outros ao invés de curar suas próprias feridas. Sinto-me incapaz de sorrir para quem grita quando deveria falar baixo e ensinar que a violência faz mal. Não desejo sentar ao lado de alguém que não se importa em enxugar as lágrimas dos outros. Tenho medo das pessoas que dizem como homens e mulheres devem se comportar. Eu não me importo com o que elas falam, mas existem pessoas que sim, e eu temo por isso. Mas, acredite, não sou intolerante. É que às vezes me sinto indisposta para conviver com essas pessoas.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Não me repreendas

Tenho razão em ser assim. Já senti o gosto bom do amargo, vi o sol se escondendo atrás da lua, contei uma dúzia de verdades, amei, (não) fui amada e sei que ficção não tem vez no mundo da realidade. Então, não me repreendas quando digo que sou assim. Tenho razão de ser quem eu sou e de escrever certas coisas quando sinto vontade.